Nathalie Quintane e Laurent de Sutter no Porto

O feminismo chegou à sua quarta vaga, da qual o movimento MeToo é a sua expressão mais eloquente. Mas a época dita “pós-feminista” já tinha sido iniciada antes, quando a questão do género e a crítica da divisão binária dos géneros se tornaram primordiais. O pós-feminismo já não se funda numa identidade feminina e o género substitui-se à dualidade homem/mulher, masculino/feminino. Há um risco nesta deslocação que tem sido apontado: o de se passar a um feminismo sem mulher, o que não serve de modo nenhum as tradicionais lutas feministas. Daqui decorre uma certa “despolitização” do feminismo, que segue a par de uma forte efervescência académica e vitalidade teórica, e cujas manifestações bem visíveis consistem na proliferação de disciplinas (women’s studies, gender studies, queer studies, etc.) e de categorias e conceitos, tais como ecofeminismo, ciberfeminismo, xenofeminismo, afrofuturismo feminista, etc.). É para debater estes temas e percorrer esta dispersão de territórios do actual feminismo que a mala voadora organiza, com curadoria de António Guerreiro, estes Encontros sobre Feminismo nos dias 14 e 15 de Abril, com diversos convidados portugueses e estrangeiros.

Entre eles, a escritora francesa Nathalie Quintane e o filósofo belga Laurent de Sutter.

Nathalie Quintane
Escritora francesa com grande prestígio e reconhecimento, a sua obra compreende diversos géneros: narrativa, poesia, ensaio, teatro. Ensina francês num colégio da cidade de Digne-les-Bains (Provence) e fez da sua experiência escolar, como aluna e professora, a matéria de um dos seus livros, “Un hamster à l’école” (La Fabrique, 2021). O caso de uma professora de liceu, Nelly Cavallero, que, nos anos 70, foi acusada de incitar os alunos ao deboche, está na base do seu último livro, “La Cavalière” (P.O.L. 2021). Com uma presença politicamente muito activa no espaço público, Nathalie Quintane é autora de cerca de trinta livros.

Laurent de Sutter
Professor de Teoria do Direito na Vrije Universiteit de Bruxelas, este ensaísta e filósofo belga nascido em 1977 é autor de uma vasta obra com um forte acento iconoclasta. Foi cronista da revista pop-rock Rif-Raf, actualmente é director da colecção “Perspectives Critiques” das Presses Universitaires de France, onde coordenou um volume colectivo intitulado Accélération!. Outros livros da sua autoria: “Contre l’érotisme” (2011), “Strip-tease: l’art de l’agacement” (2015), “L’âge de l’anesthésie” (2017), “Qu’est-ce que la pop’philosophie?” (2019), “Indignation totale” (2019), “Hors-la-loi. Théorie de l’anarchie juridique” (2021) “Pour en finir avec soi-même” (2021).