Livros – Estreias do mês de outubro

Lenine Foi à Lua de Michel Eltchaninoff
O que há de comum entre Vladimir Putin e Elon Musk? Resposta: uma admiração ilimitada pelos cosmistas russos. Podemos nunca ter ouvido falar deles, mas eles escreveram o nosso futuro.
Colonizar o espaço, conservar os corpos dos mortos para os fazer voltar à vida e libertar a potência do espírito — o programa de acção do cosmismo russo começou a ser desenhado em meados do século xix. Numa mistura de investigação científica, metafísica pura e misticismo, o movimento que marcou o século soviético é hoje uma das fontes de inspiração dos transumanistas californianos de Silicon Valley, apostados em moldar o futuro da humanidade. Delírios poéticos e sonhos totalitários do passado cuja história está mais viva do que nunca.
Caro Idiota de Virginie Despentes
Rebecca tem cinquenta anos, é uma atriz famosa e, embora se ache mais atraente do que nunca, começa a sentir na sua própria pele a discriminação da indústria cinematográfica. Oscar é um escritor só um pouco mais novo do que ela, cuja vida pessoal e carreira se encontram num caos ao descobrir-se no centro do mais recente escândalo MeToo. Zoé Katana, feminista e bloguista, é a jovem vítima que regressou do passado para finalmente ajustar contas com ele. Os três irão iniciar um diálogo tenso, por meio de chat, e descobrir como uma amizade improvável pode nascer entre pessoas que, à primeira vista, nada têm que ver umas com as outras, e como essa força desconhecida as pode ajudar a lidar melhor com as suas ansiedades, neuroses, vícios, complexos, vergonhas e medos.
Mau Género de Chloé Cruchaudet
Paul e Louise conhecem-se, apaixonam-se e pouco depois casam-se. Mas a Primeira Guerra Mundial irrompe e Paul é forçado a separar-se de Louise para ir combater. Nas trincheiras, Paul vive um verdadeiro inferno e deseja escapar de lá a qualquer custo, acabando por desertar e reencontrar a mulher em Paris. Está são e salvo, mas condenado a permanecer escondido num quarto de hotel. Para pôr fim à sua clandestinidade,Paul encontra uma solução: mudar de identidade, travestindo-se. A partir desse momento passará a chamar-se Suzanne. Entre a confusão da mudança de género e o trauma da guerra, o casal terá um destino extraordinário.
Não Saí da Minha Noite de Annie Ernaux
No verão de 1983, durante uma vaga de calor, a mãe de Annie Ernaux sentiu-se mal e foi hospitalizada. Aperceberam-se de que não comia nem bebia há vários dias, estava desorientada, revelava falhas de memória. Pouco depois, foi diagnosticada com a doença de Alzheimer. «Não saí da minha noite» foi a última frase que escreveu, numa carta a uma amiga, quando já se encontrava a viver com Annie, que nos três anos seguintes manteve um diário. Aí registou não apenas os sinais do agravamento da doença da mãe, mas também os seus próprios sentimentos ao ver-se impotente, assistindo ao definhar daquele ser que lhe deu vida.
Alguns Meses da Minha Vida de Michel Houellebecq
Alguns Meses na Minha Vida conta, com uma transparência que roça a candura, toda a canalhice de que Houellebecq foi objecto. Mas este não é só o livro de uma chantagem, é também uma funda, por vezes dolorosa e auto-irónica, reflexão sobre o sexo, a pornografia e o amor, que Houellebecq afirma ser o elemento mais importante da sexualidade. Este é um livro sem tabus, que fala da beleza e ataca a fealdade de Picasso e de Sade, por exemplo, defendendo a inocência da pornografia, de que Houellebecq queria fazer parte, e rejeitando a «pornografia indigna».